Olá recessão!

Chistine Largarde, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), que deu uma entrevista bastante desabrida sobre a guerra na Ucrânia (ela própria o reconheceu), acaba de anunciar nova subida da taxa de juro de referência da instituição. Face à vaga inflacionista que assola a Europa (e que já subiu acima dos 'mágicos dois dígitos, de mau presságio) o BCE não pode fazer outra coisa que subir a sua taxa de referência para os juros, para fazer baixar a inflação para 2%, patamar que se convencionou garantiria a circulação da moeda única, o euro, no espaço dos países comunitários aderentes).
E a ironia é que, em breve, Lagarde será posta na mesma galeria dos inimigos a abater, onde Putin assegura lugar de honra. Lagarde sabe que os economistas que argumentam que a subida da taxa de juro só irá condicionar a procura numa crise inflacionista que é, sobretudo, gerada pela oferta. No mercado básico da energia os preços do gás subiram mais de 40%.
O impacto das sanções impostas à Federação Russa na sequência da guerra da Ucrânia fazem-se sentir, no imediato, entre a população dos países que as impuseram que na economia russa, que aumenta o excedente e tem, este ano, uma quebra de 3,4% no seu crescimento, metade do que antecipavam os media ocidentais.
Defende-se que as sanções aplicadas só têm efeito a médio e longo prazo, o que implica que a guerra terá a mesma duração, pois, seguindo esta lógica, só mais à frente a Federação Russa enfraquecerá o seu esforço militar devido os constrangimentos económicos (e tecnológicos) envolvidos nas sanções.
Não é crível que o preço do gás reduza na Europa, que quanto mais tentar controlar o preço mais o fará aumentar, pelo que a inflação, com as componente energética e alimentar a persistirem a ter um preço muito elevado, está para durar. Houve quem, como Vitor Constâncio, tenha defendido que a inflação já atingiu o pico. Desconhecemos, sinceramente, os dados em que se baseiam.
É que tudo depende da evolução da guerra e do seu efeito sobre o funcionamento do mercado energético. A Rússia, um dos principais produtores de hidrocarbonetos, que absorvem a larga maioria da matriz energética, apesar do progresso das renováveis acima de expectativas anteriores, a Rússia, dizíamos, substitui (ou tenta substituir), em consequência do conflito ucraniano, subitamente o seu maior cliente. Houve uma quase subversão do mercado energético e ela irá significar, nos próximos tempos, que os ocidentais continuarão a ter uma alta inflação e que vão, por isso, viver pior.
A recessão vem aí.