8 000 MILHÕES

15-11-2022

Como alimentar 8 000 milhões de almas com energia e alimentos mais caros? 

O planeta é habitado por 8 000 milhões de pessoas. Há cem anos havia menos de 2 000 milhões de seres humanos. Um aumento superior a 300%. Num século.

Por mais que se procure contornar o impacto deste meteórico aumento de uma população sobre o ecossistema global ele é evidente: na biodiversidade, no consumo de recursos e seu efeito sobre o ambiente. A população humana cresce no meio do aquecimento global, da perda de biodiversidade (com a 6ª grande extinção, agora provocada pelo homem), da escassez de água, da subida do nível do mar, da maior frequência de catástrofes, da possível alteração das correntes oceânicas, mudando a face do planeta.

A situação do planeta Terra, onde a espécie humana alastra, é má.

Para muitos ela não se deve tanto à população como ao tipo de desenvolvimento seguido. Um argumento novo: nunca dantes se pôs em causa a utilização de uma fonte energética devido a impactos ambientais. Nunca aconteceu, os grandes saltos tecnológicos e civilizacionais são acompanhados por grandes inovações energéticas. Desde o fogo.

A tecnologia e a energia utilizadas colocam o mundo perante um problema sem precedentes. Que não pode, apesar do esforço dos que o esbatem, ser desligado da pressão demográfica.

É certo que a maior explosão populacional deu-se em continentes em que o rendimento da maioria da população, África e Ásia, é baixo ou mesmo muito baixo, e que, portanto, deixa uma menor "pegada ambiental" do que que a cravada pelos grandes magnates.

Há os que defendem a ideia de que o rumo seguido pelo desenvolvimento, assente no "excesso de consumo", é mais responsável pela degradação do planeta do que o crescimento exponencial da população humana. A organização Oxfam publica uns estudos simpáticos sobre a responsabilidade dos mais ricos na poluição global. São avaliados pelo investimento feito em energias fósseis. O investimento seria então a arma dos principais malfeitores no drama ambiental… Ora, esta gente quer é ganhar dinheiro e investem em mercados onde ganham muito. Com a subida do preço dos hidrocarbonetos em resultado do conflito na Ucrânia, os investimentos previstos em petróleo e gás incharam e envolverão triliões de dólares. Sendo a maturação destes investimentos de médio prazo existe a convicção de que os combustíveis fósseis continuarão a dominar no leque de fontes de energia disponíveis.

A prosperidade "ocidental", invejada por todo o lado, fez-se na base de energia (fóssil) barata. A um africano ou a um asiático pobres o que importa é aceder a uma vida mais parecida com a dos mais ricos...

Para sermos muitos mais e vivermos todos melhor, e discussão sobre os mega lucros capitalistas à parte, parece inevitável um maior consumo de recursos. Já consumimos anualmente recursos correspondentes a 1,75 planetas Terra, e a tendência é consumir ainda mais (se os países 'não ocidentais' tivessem o mesmo nível de vida dos ocidentais, mesmo os mais pobres, como Portugal, o consumo seria muito superior).

Não só mais recursos como outros recursos. Será viável? Não há fonte autorizada que não reconheça que o petróleo e o gás irão representar, pelo menos até 2045, mais de metade da energia que os humanos consomem. A migração para outras formas de energia não é abrupta, mesmo partindo do princípio que existiria uma surpreendente vontade política para fazê-la. Na Europa, a transição de aprovisionamento energético faz-se sob o cenário perigosíssimo do conflito ucraniano.

Os benefícios da globalização estão muito ligados à aplicação de novas tecnologias, incluindo os genes modificados e os fertilizantes, à agricultura. Foi este salto na produtividade agrícola que permitiu alimentar muito mais pessoas. O Sri Lanka, hoje um país instável, em que o Presidente teve de fugir, foi, na segunda metade do último século, um exemplo de sucesso, muito devido ao aumento da produtividade agrícola, estimulada pela introdução de sementes geneticamente modificadas, pesticidas e fertilizantes. O rendimento dos agricultores disparou e a prosperidade nacional tornou-se um facto. Desde que o país proibiu a importação de fertilizantes químicos e pesticidas o rendimento dos agricultores despenhou-se e a crise social e política instalou-se.

A verdade é que a civilização atual se desenvolveu na procura de fontes de energia barata que permitissem o aumento da produção de alimentos baseada em novas técnicas, implodindo a produtividade.A energia barata e a tecnologia não só aumentou os alimentos disponíveis como os tornou mais baratos para os consumidores.

Como alimentar 8 000 milhões de almas com energia e alimentos mais caros?

Malthus, um pensador contemporâneo de David Ricardo, e com ele um dos fundadores da ciência económica contemporânea no século XIX, previa que a economia não iria suportar a taxa de crescimento da população. Sucessivas revoluções tecnológicas e energéticas (passou-se rapidamente do vapor para o carvão e deste para o petróleo e o gás natural), que viabilizaram a globalização, 'acomodaram' o crescimento populacional.

Acontece que agora não se trata apenas de assegurar o bem-estar das sociedades abundantes a 8 000 milhões, uma missão utópica, mas em alterar drasticamente as bases do padrão de vida que a esmagadora maioria dos terrestres ambiciona.

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