
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Para onde caminhamos?
A inteligência artificial vai dar um novo impulso extraordinário à economia, com implicações sobre a produtividade das empresas e o nível de emprego e as mais sérias consequências sobre a vida em sociedade e o próprio conceito de vida. É a nova fronteira. Quem não a passar ficará à porta da Vida 3.0
Charles Handy, o 'filósofo da Gestão' já avisara que o futuro traria uma mudança radical na gestão. A emergência da inteligência artificial vai ser um dos factores que mais exigirão um reajustamento das diferentes funções hoje desempenhadas numa organização e da própria organização. Handy avisou que a tecnologia tornaria muitas pessoas e funções obsoletas, que as exigências de produtividade seriam cada vez maiores, que haveria uma escalada do 'home work', trabalho em rede e trabalho a tempo parcial, e que o desemprego dispararia, face à substituição de pessoas por máquinas que não erram nem param de funcionar e pela inteligência artificial. O que aí vem é de tal forma diferente da nossa realidade, já de si mutante, que se torna impossível conhecer os seus contornos e os seus efeitos. 'A única coisa que é previsível é que nada é previsível', disse o ex-funcionário irlandês da Anglo American, que fez o MBA no MIT, Instituto de Tecnologia de Massachusetts, na Sloan School Management, nos Estados Unidos e foi depois para Londres coordenar a London Business School. Para Handy as empresas ou organizações que surgirão do futuro serão o que ele chama "três Is", uma nomenclatura que significa que as organizações contarão com Informação, Inteligência e Ideias.
Já vivemos boa parte da vida através da Internet e do smartphone, já armazenamos as nossas ferramentas de trabalho em 'cloud', super-servidores que não sabemos bem onde pairam, já recorremos aos drones para as mais diferentes tarefas, inclusive militares, passámos a habitar o mundo das 'app', ou seja, aplicativos para o que queiramos conceber, desde regular à distância os nossos electrodomésticos, a fintar o trânsito, gerir as nossas finanças ou executar negócios.
E todos os dias a automação confirma, com números e não apenas como visão. o seu impacto positivo sobre a economia, incrementando a produtividade e permitindo passar para novos patamares competitivos e também civilizacionais. Já não imaginamos o mundo sem os aparelhos que nos facilitam e prolongam a vida, dão uma outra dimensão e uma outra eficácia ao trabalho e um outro sentido e amplitude ao modo como interagimos em sociedade. Só que, até agora centramo-nos na automação e nos softwares construídos pela nossa própria inteligência.
Os especialistas afirmam que a inteligência artificial representa uma nova fronteira tecnológica, capaz de dar um forte impulso à economia. Segundo uma estimativa da consultora PwC, até 2030 a inteligência artificial deverá adicionar quase 16 triliões de dólares à economia, um aumento de 14% em relação ao PIB global actual. Esse valor - superior à soma das economias da China e da Índia - deverá vir do aumento da produtividade e do consumo. O desenvolvimento da inteligência artificial deverá ter também profundas implicações sociais e éticas. As máquinas tornar-se-ão mais inteligentes do que os homens? Elas vão tomar nosso lugar no mercado de trabalho? Elas representam uma ameaça à humanidade? Os pensadores mais sensatos afirmam que a inteligência artificial não vai nem salvar nem destruir o mundo, mas uma coisa parece, de facto, incontestável: as novas tecnologias têm o potencial de melhorar a capacidade humana. O desfio passa por ser mais inteligentes que os nossos avatares artificiais, fazendo com que joguem a nosso favor, num mundo em constante aceleração.
Sejamos mais inteligentes do que as máquinas e saibamos usá-las a nosso favor. Um novo mundo se desenha, em ritmo cada vez mais acelerado.
Quais os efeitos da aplicação das novas tecnologias aos negócios, quais os novos problemas que elas colocam, e não serão poucos. Quem somos afinal, como vamos reagir às suas profundas implicações sobre o trabalho, com redução de efectivos laborais, a ética e a defesa.
A imagem da inteligência artificial e dos robots, como hoje a imaginamos, foi moldada pelas narrativas e os efeitos especiais de Hollywood. E se convém moderar as expectativas, pois a inteligência artificial dos nossos dias não é muito mais inteligente do que uma criança de quatro anos de idade, o físico Max Tegmark considera que, cedo ou tarde, a inteligência não biológica tende a superar-nos. Para ele os humanos terão de preparar-se para lidar com uma nova era, a que chama de Vida 3.0.
(Adaptado do texto publicado na Exame Moçambique nº 66, Maio 2018)